Pontos a Ponderar

No limite

Pr Jehozadak A. PereiraNão bastassem as novelas, com enredos repletos de situações de infidelidade, espertezas, conflitos familiares para todos os gostos, programas ditos infantis com apresentadoras seminuas e insinuantes, humorísticos com as suas piadas chulas e de duplo sentido, a exemplo do malfadado Casseta e Planeta, do repugnante Sai de Baixo e os seus chavões, e nas tardes dominicais, o carro-chefe Domingão do Faustão, ainda um campeão de faturamento e de mau gosto, onde dançarinas mostram partes desnudas dos seus corpos em busca de audiência, sem contar as famosas e irritantes pegadinhas. Isto é a Rede Globo.

A busca da audiência a qualquer preço é insana e inconseqüente. Ao nos impor suas mazelas, a Vênus platinada nos contamina com o seu lodo sujo e fétido, talvez desejando que sejamos afetados pelo seu código de conduta.

Talvez insatisfeita com o nível da sua programação a Rede Globo resolveu colocar no ar mais um "campeão de audiência". E nos impôs No Limite, que não passa de um cerimonial ritualístico disfarçado de entretenimento. Veiculou que os doze participantes estavam num lugar deserto e inabitado, o que não era verdade, pois a imprensa noticiou à exaustão que os concorrentes estavam a alguns minutos da civilização.

Nos episódios, mostrou os conflitos pessoais de cada um dos competidores, e a cada domingo um Brasil eletrizado assistia e comentava cada capítulo, simpatizando com uns e antipatizando-se com outros personagens. Qualquer um pode dizer que conflitos como os vistos nos programas estão presentes em qualquer família ou grupo de pessoas, o que é absoluta verdade. Mas, no bojo de tudo isto, a Rede Globo nos empurrou o mais descarado e despudorado esoterismo. O apresentador Zeca Camargo anuncia que cada competidor tem de passar pelo portal dos quatro elementos ao final de cada etapa dos jogos para obter parte de uma mandala, tudo iluminado por tochas, que bruxuleantes davam um tom místico à cena.

Vejamos o que significa cada coisa:

Portal ou porta - É importante numa casa ou estabelecimento, é o símbolo de passagem de um lugar a outro, de um estado a outro, da luz às trevas. O portal ou porta está ligado às provas de iniciação. Quando se toca o limiar, abandonam-se velhos conceitos, idéias e padrões emocionais que não mais convêm. Só os fortes vencem. Neste caso há a clara alusão espiritual.

Iniciação - Muitas vezes deturpada e apresentada como espetáculo cerimonial externo, a iniciação é essencialmente uma transformação individual que envolve transição de um nível de consciência e a manifestação de outro. Os rituais de iniciação, destinados a estimular tais transformações, tem sido uma característica da cultura humana desde os tempos mais remotos, variando de iniciações na puberdade em sociedades primitivas a elaboradas iniciações cerimoniais da maçonaria, da Golden Dawn, das religiões africanas, como a umbanda ou candomblé, entre outras. A maior parte dos ocultistas acredita que as únicas iniciações que realmente valem são as cerimônias íntimas, que ocorrem em experiências místicas ou visionárias, induzindo a mudança de caráter, de perspectiva de vida e de capacidade de cada indivíduo.

Quatro elementos: o fogo, a terra, a água e o ar - A origem dos quatro elementos está nos ritos fúnebres e na forma de se desfazer de cadáveres dos povos antigos. Uns cremavam, outros enterravam, afundavam na água e, finalmente, outros expunham ao ar. O autor da teoria de que os quatro elementos são a base de tudo é Empédocles, filósofo e feiticeiro do V século a. C. e segundo a teoria os fenômenos naturais serviram de base às ciências ocultas. A astrologia dividiu os signos do zodíaco entre os quatro elementos, a psicologia atribuiu-lhe os quatro temperamentos. Os esotéricos dizem que os elementos são a perfeita expressão das forças sagradas, e que cada elemento é uma ligação que Deus criou para religar entre si os diversos aspectos da natureza. Afirmam ainda os esotéricos que dentro dos quatro elementos é possível ver as quatro estações do ano, e as quatro fases da vida do homem. Impondo assim uma ordem quaternária da natureza regida logicamente pelos quatro elementos.

A mandala - Em sânscrito significa "círculo" e serve para meditação e concentração. Ou de modelos espirituais da ordenação do mundo, e de suporte visual à meditação indispensável à iniciação aos diferentes ciclos tântricos, combinados de maneira diversa com os elementos da natureza. Mandala é um quadrado dentro de um círculo, ou os quatro elementos dentro do mundo. Cada detalhe da mandala, tem um significado simbólico e busca auxiliar o iniciado no seu esforço de concentração espiritual e mental, cada vez mais próximo do seu centro, do seu eu. A mandala compõe-se de um quadrado rodeado de um círculo em três partes. A primeira - círculo de chamas - montanha de fogo de cinco cores, constitui-se numa barreira para o não iniciado, simboliza os elementos e o conhecimento esotérico que deve queimar a ignorância e conduzir o meditante ao conhecimento procurado. O segundo círculo é a cintura de diamante, símbolo da consciência suprema, o estado de iluminação. O terceiro círculo é composto por pétalas de lótus, simbolizando o estado de pureza permitindo o desenrolar harmonioso da meditação. O meditante deve captar a relação mística entre os elementos do mundo e o mundo divino, dominar progressivamente as partes da mandala. Ao chegar a figura central, símbolo do absoluto, ele identifica-se com a visão divina e "reencontra a unidade da consciência".

Ao final da competição, cada uma das finalistas participaram de ritos que simbolizavam os quatro elementos: o fogo, a terra, a água e o ar. A ganhadora foi a "gordinha" Elaine, que, além de levar o prêmio de R$ 300 mil, foi alçada à condição de celebridade. Uma das finalistas recebeu e aceitou proposta para posar nua, outra pretende ser atriz, e todas elas desfrutam dos momentos efêmeros da fama. Portanto, ao nos impor o ranço esotérico a Rede Globo o faz deliberadamente e conscientemente, sabendo dos males e do prejuízo espiritual que tal atitude trará certamente.

É de se imaginar que num futuro muito breve, talvez nos próximos dias, uma avalanche de produtos ligados ao programa invadirá as lojas e livrarias, jogando o Brasil que assistiu aos capítulos do programa em práticas que a população infelizmente desconhece. Quanto a nós, crentes em Cristo, temos e devemos nos insurgir contra tais programas, que só fazem perverter as mentes, contaminando-as com o que de pior há. E este é o perigo que ronda os nossos lares. Pois se no programa houvesse pornografia, certamente os televisores seriam de pronto desligados. Mas, sob o inocente manto da diversão, foi nos empurrado o lixo da Nova Era e do esoterismo, sabe-se lá a que pretexto.

Jehozadak A. Pereira
jehozadakpereira@hotmail.com
É jornalista e escritor

Brockton, Massachussetts, EUA

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