Pontos a Ponderar

Homens e chimpanzés: corpos parecidos, mentes distintas

Homens e chimpanzés: corpos parecidos, mentes distintasWASHINGTON - Tão diferente quanto a aparência física entre chimpanzés e seres humanos, ambas espécies são quase idênticas geneticamente, exceto por seus cérebros.

Uma equipe de pesquisadores europeus e norte-americanos comparou as atividades genéticas nos cérebros, fígados e sangue de chimpanzés e seres humanos. E concluíram que as duas espécies têm cerca de 98,7 por cento dos mesmos genes e possuem tecidos corporais similares.

Mas, o cérebro humano registra cerca de cinco vezes mais atividade genética, de acordo com esse estudo, divulgado na edição da sexta-feira da revista científica Science.

"Aconteceram muitas alterações genéticas durante o desenvolvimento dos seres humanos", disse o dr. Ajit Varki, professor de medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego (UCSD), e co-autor do estudo.

"Essa pesquisa sugere que as mudanças no cérebro foram um dos principais aspectos da evolução dos seres humanos".

"Muitas pessoas já falaram sobre essas diferenças, mas sempre foram simplificadas", disse a dr. Elaine V. Muchmore, pesquisadora do Centro de Assuntos para Veteranos do Sistema de Saúde de San Diego e professora de medicina da UCSD.

"O cérebro humano é um órgão muito complicado e seu estudo comprova isso", declarou Muchmore, uma das co-autoras dessa pesquisa.

Chimpanzés são mais detalhadamente relacionados com seres humanos do que outros primatas. Considera-se que os dois compartiram o mesmo ancestral, há entre cinco e sete milhões de anos, embora não se saiba como esse antigo primata se parecia.

Desde então, chimpanzés e seres humanos evoluíram separadamente.

"E os homens desenvolveram um cérebro cerca de duas vezes maior que os chimpanzés", de acordo com Varki.

O estudo também examinou a atividade genética no fígado, cérebro e sangue de orangotangos, que são outro tipo de primata como os chimpanzés, e de macacos Rhesus.

Segundo os pesquisadores, embora os tecidos e o sangue do chimpanzé se assemelhassem aos dos humanos, a atividade genética no cérebro do animal era mais parecida com a do macaco.

"É muito difícil determinar a diferença entre o sangue do chimpanzé e do ser humano", declarou Varki, especialista em sangue. "Os seres humanos expressam mais diferenças genéticas no cérebro e é isso que nos permite a fazer o que podemos fazer".

Segundo Varki, "macacos, seres humanos e chimpanzés provavelmente tiveram o mesmo ancestral há cerca de 13 milhões de anos".

O pesquisador disse que a comparação genética entre chimpanzés e seres humanos pode levar a melhores terapias para curar doenças entre os homens.

"Com o entendimento das diferenças entre homens e chimpanzés, poderemos aprender mais sobre a genética de certas enfermidades que causam dano aos seres humanos, mas não a esses animais", disse Varki.

Ele observou que os chimpanzés podem se tornar infectados com o HIV, o vírus causador da Aids, e nunca desenvolver a doença. Os chimpanzés também não sofrem os efeitos de uma infecção por Plasmodium falciparum, a forma mais grave da malária e uma doença que mata milhares de seres humanos por ano.

Varki declarou que as buscas por uma explicação para essas diferentes reações a uma mesma doença podem levar os pesquisadores a encontrar os genes que protegem os chimpanzés e faltam nos seres humanos, propiciando, quem sabe, novas curas.

Mas, Varki disse que a pesquisa não significa que os chimpanzés deveriam ser transformados em cobaias de laboratório.

"Os chimpanzés são tão próximos aos seres humanos que as pesquisas nesses animais deveriam seguir os mesmos princípios utilizados nos homens", comentou.

Para Mark D. Shriver, um pesquisador de história humana da Universidade da Pensilvânia, opinou que o estudo encontrou "um padrão que esperava" quando se comparam chimpanzés com seres humanos.

No entanto, disse que para as descobertas serem definitivas, os pesquisadores precisam estudar a atividade genética em outros órgãos de todas as espécies.

Já o dr. Maynard Olson, um pesquisador genético da Universidade de Washington, em Seattle, considerou esse estudo "um começo".

"Mas, há muito mais trabalho a ser feito", opinou Olson. "Chegar a um entendimento das diferenças moleculares entre seres humanos e chimpanzés é um desafio, ao mesmo tempo, fascinante e complicado".

Esse estudo também conta com pesquisadores do Instituto Max Planck, em Leipzig, na Alemanha, e outros dois da Holanda.

(Com informações da Associated Press)
13 de abril, 2002
Às 3:09 PM hora de Brasília (1809 GMT)

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